“Zé Ninguém está em MIAMI”
Paraíso…, fazendo abstração da conotação religiosa, de muitas religiões, “paraíso” para muitos habitantes do Brasil, nada mais seria que uma grande e gratuita melhoria do estado atual da vida deles mesmos.
Existem, portanto, tantos “paraísos” quanto são as pessoas que ambicionam melhorias drásticas na vida deles ou somente a consecução de uma “graça”, em geral bastante modesta.
Um camponês do árido nordestino, o que pode sonhar…? qual seria o seu “paraíso”?
Água, água cristalina e abundante, água para a terra ardida e o gado sedento… água… Depois de obtê-la poderá, talvez, aspirar a outros paraísos, mas “agora” o paraíso é água… água.
A mulher dele, talvez também aspire a água, mas provavelmente o seu “paraíso” será algo diverso: a volta de um filho, o casamento da filha e muitos netos, enfim, finalmente e fortemente a felicidade dos filhos, e, de reflexo, o dela mesmo.
Os “paraísos” variam, como já dito, de uma pessoa para outra.
Geralmente, nada mais é que a superação das angústias cotidianas, das agruras do momento, dos desejos, mesmo modestos, irrealizáveis, do desapontamento para com os em quem confiou: vizinhos, filhos, cunhados, políticos, etc… a lista é longa e variada.
Os paraísos da maioria dos cidadãos urbanos, com família, são, já disse, relativamente modestos: uma casa maior, bem maior, um carro… carro bom, dos que se vê na TV, os filhos estudados… e todos juntos na praia… sol e peixe frito… sol e cerveja… e nada de preocupação com o “patrão”, com os impostos ou com o carnê da Caixa, etc, etc, etc.
A mulher, tal qual a mulher nordestina, terá o seu “paraíso” levemente diverso: a casa não tão grande, o carro nada luxuoso, mas os filhos, com saúde, estudando, alegres e felizes.
Mas tem variáveis, quando se trata de pessoas mais jovens.
A mocinha de 15 anos, vê o paraíso como um grande desfile de moda e ela atuando como manequim principal.
Não adianta dizer que esse “paraíso” é um paraíso banal e artificial. É o paraíso dela… dela com 15 anos…; mais alguns anos e o paraíso dela muda, com uma década a mais, o paraíso poderá ser uns filhos fofinhos e um necessário e dedicado marido provedor.
Existe o “paraíso” do moleque de 15 anos, que quer ser o melhor jogador de futebol do mundo, superior, se for brasileiro a Pelé, e, se for argentino, a Maradona [me desculpem a comparação incomparável].
Enfim, o paraíso é a consecução dos desejos do momento, derivado da situação real. Paraísos, às vezes modesto, mas sempre gratuito e isento de responsabilidades. Somente a fruição permanente das benesses paradisíacas.
Podemos condenar os aspirantes a estes paraísos? Certamente que não.
A maioria deles não teve a oportunidade de cultivar no seu espírito algo a mais e a culpa disso não é deles…
A quem se deve a limitação conceitual do paraíso, pela maioria dos brasileiros? De quem será a culpa, então, de tantos paraísos mesquinhos?
Não sei, não sei e gostaria que um leitor misericordioso me iluminasse a respeito.
Mas, o Zé Ninguém tem sempre à mão um culpado, ou diversos culpados.
Na busca errática do culpado, colocarei em 1º lugar as “autoridades políticas” que deram a concessão de 3 canais de TV, a Record, a Manchete e ao Silvio Santos (que pessoalmente estimo muito…) em lugar da Editora Abril, Estado de São Paulo e Jornal do Brasil, que também eram candidatos. Isto umas três décadas atrás.
Sim, fazem mais de três décadas, fazem mais de 10.000 noites no qual programas entre ruim e péssimos foram irradiados em milhões de lares inermes… A Constituição prometeu proteger os lares dessas iniquidades televisivas, mas, como dizia Getúlio Vargas: “Ora… a Lei”.
Programas geralmente deseducativos ou na melhor das hipóteses inúteis tornaram-se, por exemplo, em novelas alienantes ou programas imbecilóides como o “Big Brother” e assim em diante.
Sim, sim, existem também bons programas, mas são, conveniamos, uma clara minoria; a seleção dos três piores grupos empresariais, tornou isso inelutável.
A situação é grave, grave e irreversível até onde a razão humana pode perceber.
O estrago feito a milhões de vidas nas 10.000 noites televisivas prejudiciais, como pode ser superado?
Nem o gaiato Zé Ninguém, que sempre acha uma solução verbal para qualquer situação, consegue idealizar um remédio para tanta tragédia.
Quem sabe se mudando o sistema de governo de presidencialista para parlamentarista ou com o atual sistema, conseguir 4 ou 5 bons presidentes seguidos, iniciando-se, assim, um processo de reversão. Pode até ser, mas este processo, nunca será inferior a 50 ou 60 anos… duas a três gerações…
Isso, é claro, com a perspectiva de, como afirmei, de 4 ou 5 bons presidentes da república seguidos. Alguém acredita nisso?
Será este o “paraíso” da nação brasileira?